A RESPONSABILIDADE DO PAPA
- Davi Marreiro

- 7 de jul.
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Atualizado: 8 de jul.

Com a morte do Papa Francisco, ressurge o debate sobre o papel e a responsabilidade do Papa ao manifestar a fé cristã diante do mundo. Antes de qualquer função institucional, cabe ao Papa o chamado de ser testemunha de Jesus Cristo, tornando-O presente através de suas palavras e gestos na arena pública. Sua missão fundamental não é representar a si mesmo nem ser o centro do anúncio, mas apontar para Cristo, tornando visível o Evangelho e os valores do Reino de Deus de modo compreensível a todos.
Primeiro latino-americano e jesuíta no papado, Francisco adotou um estilo de vida pautado pela simplicidade. Ainda que não tenha promovido mudanças estruturais significativas na cultura clerical, sua conduta influenciou a forma como o papado passou a ser percebido por distintos setores da sociedade.
Do ponto de vista teológico, sua contribuição se expressou na ampliação dos temas considerados centrais à missão da Igreja. A encíclica Laudato Si’, por exemplo, inseriu a crise ambiental no campo das reflexões morais e espirituais do cristianismo contemporâneo. Outros posicionamentos, como declarações sobre pessoas LGBTQIA+, casais divorciados e recasados, geraram repercussão global, ainda que sem alteração na doutrina formal da Igreja.
No diálogo inter-religioso, deu continuidade às ações de seus antecessores, com especial atenção ao relacionamento com lideranças muçulmanas. Frente aos casos de abuso sexual dentro da Igreja, ampliou medidas já existentes e enfrentou resistências internas em processos de responsabilização e transparência.
Na crítica ao sistema econômico internacional, utilizou uma linguagem direta e acessível, reforçando princípios da Doutrina Social da Igreja. Também promoveu discussões sobre os direitos de povos indígenas, particularmente no contexto do Sínodo da Amazônia, embora propostas mais profundas tenham encontrado limites institucionais.
Tentou implementar uma reforma na Cúria Romana e fortalecer processos de descentralização e colegialidade, mas os resultados, até o momento, permanecem parciais.
Francisco não se distanciou das linhas do Concílio Vaticano II. Segundo Massimo Faggioli, "O jesuíta argentino Bergoglio percebe o Vaticano II como um assunto que não deve ser reinterpretado ou restringido, mas implementado e ampliado, em algumas questões mais do que em outras." Sua atuação no campo teológico contribuiu para ampliar os debates sobre os desafios da Igreja no mundo contemporâneo, ao articular fé, ética e realidade social.




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