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JANELAS QUEBRADAS E VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

  • Foto do escritor: Davi Marreiro
    Davi Marreiro
  • 7 de jul.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de jul.


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Qual foi a primeira janela que deixamos quebrar?

Em uma escola imagine uma janela com um vidro estilhaçado, ignorado por todos. Dias, semanas, meses. Ninguém conserta. A janela vira paisagem. Com o tempo, alguém joga lixo no chão, outro pixa a parede, alguém grita com a professora. Até que um dia, alguém leva uma faca. Isso não é apenas ficção urbana: é o coração da teoria das janelas quebradas. E ela tem tudo a ver com a escalada da violência nas escolas brasileiras.


O que estamos ignorando?

A primeira rachadura: quando o cuidado virou exceção

A teoria da janela quebrada, formulada pelos criminologistas Wilson e Kelling, ensina que ambientes com sinais de abandono geram mais abandono. Mas e quando a rachadura não apenas estrutural?

Principalmente nas escolas públicas do Brasil, essas “janelas quebradas” são ignoradas: falta de escuta, exclusão social, racismo estrutural, negligência com a saúde mental. São olhares desviados diante do sofrimento de um estudante, são bullying normalizado, são professores exaustos que não têm a quem recorrer.

A juventude brasileira, especialmente a mais vulnerável, vive imersa em múltiplas camadas de violência: em casa, nas ruas, na mídia, e muitas vezes, também na escola. Quando não há redes de apoio, qualquer conflito vira faca, e qualquer frustração vira alvo.


O que temos feito?

O SNAVE, os canais de denúncia, a lei que coloca o cuidado psicossocial como parte da rotina escolar (Lei 14.819/2024). Mas isso chega com força desigual. Nas periferias, falta equipe, sobra demanda. Nas redes escolares, a integração entre saúde, educação e assistência social ainda é frágil.


Deixar o medo vencer é manter a janela aberta

Escolas seguras não se constroem com muros mais altos, mas com relações mais fortes. É preciso reconhecer que a violência escolar não nasce apenas dentro da escola ela se expressa ali. E que cada omissão cotidiana é mais um caco de vidro acumulado no chão.


Fechar as janelas exige mais que consertar o vidro.

Exige cuidar da cultura escolar, promover escuta ativa, treinar profissionais para lidar com traumas, envolver as famílias, dar voz aos estudantes. Isso é política de convivência, não de contenção.


E você, está olhando para quais janelas?

·       Na sua escola, quais sinais estão sendo ignorados?

·       Qual aluno parou de falar? Qual professor parou de tentar?

·       O que é visto como “normal” mas carrega dor?


Não existe fórmula mágica

A violência nas escolas não surge do nada, nem pode ser atribuída a um único aluno, a uma turma específica ou a um gestor isolado. Ela é fruto de um abandono compartilhado. E só começará a mudar quando assumirmos a responsabilidade de consertar as janelas quebradas: aquelas que escancaram a desigualdade, silenciam o sofrimento e permanecem estilhaçadas por causa da negligência política, aquela que escolhe não ver, não ouvir e, principalmente, não agir.


Fontes utilizadas:

  • Kelling, G., & Wilson, J. Q. (1982). Broken Windows: The police and neighborhood safety.

  • Observatório da Violência nas Escolas (2024).

  • Ministério da Educação (Lei 14.819/2024).

  • SNAVE – Sistema Nacional de Acompanhamento da Violência Escolar.

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